Donald Trump é oficializado candidato republicano à Presidência
Dois dias após sofrer um atentado durante um comício eleitoral na Pensilvânia, e após conquistar mais uma pequena vitória na Justiça, o ex-presidente Donald Trump foi proclamado nesta segunda-feira o candidato oficial pelo Partido Republicano para concorrer à Casa Branca, em novembro. O anúncio ocorreu durante o primeiro dia da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, momentos após o magnata anunciar o senador por Ohio, J.D Vance como sua escolha para vice-presidente. A expectativa é de que Trump discurse na próxima quinta-feira sua primeira aparição pública desde o ataque.
A confirmação desta segunda encerra a etapa das primárias e opera mais como uma formalidade, sem mistérios ou novidades: o magnata já era o provável candidato republicano há meses após conquistar o “número mágico”, isto é, a maioria dos delegados em 12 de março. Em Washington, Trump garantiu os 1.215 delegados necessários para a indicação do partido. No mesmo dia, seu rival e atual presidente dos EUA, Joe Biden, também garantiu os delegados necessários para buscar a reeleição. A princípio, Biden será confirmado em agosto, para quando está marcada a convenção democrata.
Cerca de 2,5 mil delegados estão reunidos na cidade de Milwaukee para a votação nominal, parte do rito para consagrar Trump como candidato oficial. O estado de Iowa, onde a corrida para a Casa Branca foi iniciada, foi o primeiro a votar, mas foi a delegação da Flórida, da qual seu filho Eric é representante, quem consagrou o magnata.
— Em nome de toda a nossa família e em nome dos 125 delegados do inacreditável estado da Flórida, indicamos cada um deles para o maior presidente que já existiu. E esse é Donald J. Trump — afirmou Eric Trump ao entregar os delgados do estado da Flórida, sob aplausos.
Momentos antes, ao tomar a palavra para falar em nome da delegação do Kentuchy, o líder republicano do Senado americano, Mitch McConnell, foi vaiado. O senador culpou Trump diretamente pelo ataque ao Capitólio em janeiro de 2021, mas anunciou seu apoio ao magnata após ex-candidata Nikki Haley ter abandonado a corrida presidencial em março. Devido às regras do partido estadual, os delegados republicanos permanecem vinculados ao candidato designado e, por isso, pelo menos uma parte programada deverá ir para Haley, mesmo após a ex-governadora da Carolina do Sul ter deixado a disputa.
A campanha de Trump já atualizou o seu site, passando a arrecadar fundos como “Trump-Vance 2024”. A escolha de Vance para vice foi elogiada pelo presidente da Câmara, Mike Johnson, e por governadores como Mike DeWine, de Ohio, e Doug Burgum, da Dakota do Norte. A campanha do presidente Biden, por sua vez, descreveu Vance como um “extremista MAGA de extrema direita”, afirmando que o senador “nega as eleições de 2020, apoia a proibição nacional do aborto e votou contra o acesso à fertilização in vitro”.
Projetada à imagem de Trump
Grande parte da convenção foi projetada à imagem de Trump, com seu slogan de campanha “Make America Great Again” (Faça a América Grande Novamente, em tradução livre) como ideia central. Trump já havia colocado pessoas de sua confiança na liderança do partido, incluindo sua nora Lara Trump como vice-presidente do Comitê Nacional Republicano, alienando a dissidência. Momento antes do início da votação nominal, os delegados aprovaram a nova plataforma do partido, um reflexo da afirmação do republicano meses antes: “O partido é meu”.
O início da convenção foi marcado por um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do atentado contra o ex-presidente Donald Trump, durante um comício eleitoral na Pensilvânia, no sábado. No ataque, Corey Comperatore, de 50 anos, foi morto, e outras duas pessoas ficaram feridas. Pelo menos 50 mil republicanos são esperados na convenção, realizada no Fiserv Forum, uma arena no centro da cidade de Milwaukee. O Serviço Secreto americano insistiu no domingo que a agência estava “totalmente preparada” para manter a segurança na convenção e que não mudaria seus protocolos mesmo após o episódio, mas afirmou que alterou o esquema de segurança de Trump “para garantir sua proteção contínua durante a convenção e o restante da campanha” e “revisou e reforçou” seu plano de segurança para o evento.
— Estamos totalmente preparados e temos um plano de segurança abrangente em vigor, e estamos prontos para ir — disse Audrey Gibson-Cicchino, coordenadora do RNC do Serviço Secreto, aos repórteres, expressando confiança de que o evento será protegido pelo “mais alto nível de segurança”.
Nesta segunda, o secretário de Segurança Interna do país, Alejandro Mayorkas, afirmou que o candidato Robert F. Kennedey Jr. receberá proteção do Serviço Secreto americano. O candidato independente se encontrou com Trump mais cedo, com quem discutiu sobre a “unidade nacional” após a tentativa de assassinato do republicano. Uma fonte familiarizada com a questão, citada pela CNN, informou que RFK Jr. também teria abordado com o magnata sua então escolha para vice. A equipe do candidato independente confirmou o encontro e afirmou que um similar deverá ocorrer com os líderes do Partido Democrata, reforçando: “E não, ele não está desistindo da corrida.”
Como medida de segurança adicional, a área ao redor da convenção foi considerada uma “zona livre de drones” durante o evento. Pela lei estadual de Wisconsin, armas ainda serão permitidas no perímetro externo — fora da área controlada pelo Serviço Secreto, disseram autoridades de Milwaukee a repórteres no domingo. Outras forças de segurança também estarão presentes para lidar com qualquer resultado, incluindo protestos. Até 4.500 policiais adicionais de áreas vizinhas se juntarão ao Departamento de Polícia de Milwaukee para proteger o evento, segundo o Milwaukee Journal Sentinel.
E em meio ao furacão de emoções que atinge a campanha do magnata, Trump ainda sai fortalecido em uma de suas batalhas na Justiça. Na manhã desta segunda-feira, e no que foi considerado um momento pouco usual e altamente benéfico para o magnata, a juíza Aileen Cannon rejeitou o processo criminal em que Trump é acusado de manusear e retirar documentos confidenciais da Casa Branca após deixar a Presidência, alegando que a indicação do promotor especial Jack Smith violava a Constituição. A decisão acalma por um tempo a equipe jurídica do republicano, já que o caso era considerado como um dos processos criminais mais fortes contra o ex-presidente, em parte porque os atos teriam ocorrido quando Trump já havia deixado a Casa Branca.
A decisão vem na esteira de uma série de conquistas similares: em junho, um tribunal de apelações na Geórgia suspendeu o caso em que ele é acusado de tentar reverter a derrota para Biden no estado, em 2020, enquanto um painel de juízes decide se a promotora distrital do condado de Fulton, Fani Willis, deve ser desqualificada do caso. Em julho, veio uma das vitórias mais importantes. A Suprema Corte decidiu que Trump em direito a uma imunidade substancial contra acusações criminais, em uma decisão que provavelmente adiará para além das eleições o julgamento do caso contra Trump sob as acusações relativas à tentativa de subverter a eleição de 2020.
— Ele nunca vai parar de ser um lutador — disse o ex-governador de Wisconsin, Scott Walker, que concorreu à presidência contra Trump brevemente em 2016, à AFP durante a Convenção. — E acho que as pessoas aqui percebem que ele está lutando por elas, e essas vitórias não são apenas vitórias para ele, são vitórias para o povo americano.
Com O Globo