Em meio a um ambiente econômico marcado pela elevação da taxa básica de juros, o que potencialmente pode aumentar o custo dos recursos financeiros e impulsionar a inadimplência, o mercado de crédito digital deve atravessar um 2025 desafiador. No entanto, o setor tende a passar por mudanças transformacionais, com capacidade de ampliar e aprimorar suas ofertas, por meio de iniciativas como o novo crédito consignado privado e o lançamento de novas modalidades do Pix. As projeções são da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), representante das fintechs de crédito.

Na avaliação de Francisco Ferreira, presidente da entidade, o aumento da taxa Selic, cuja estimativa para o próximo ano já ultrapassa os 14%, deve reduzir o ritmo das concessões de crédito. “Há seis meses, a expectativa era de que os juros terminassem o ano na casa de um dígito e ainda com uma tendência de queda. O cenário mudou completamente. Com isso, o crédito fica mais caro, as instituições financeiras diminuem seu apetite ao risco e é possível que no primeiro trimestre tenhamos um aumento no número de brasileiros inadimplentes, afetando assim o mercado como um todo”, afirma. 

O executivo destaca, porém, que as concessões via fintechs devem aumentar, ainda que em ritmo menor do que no último ano. “Certamente, a participação de mercado das empresas de crédito digital também vai subir, porque historicamente o segmento cresce mais rápido do que a média de mercado”, aponta Ferreira. 

Esperado inicialmente para este ano, o lançamento do novo modelo de empréstimo consignado privado tende a ser a maior mudança transformacional no setor em 2025, acredita a ABCD. “Porque essa iniciativa de fato vai criar um mercado novo, ao permitir acesso a crédito a toda uma categoria de trabalhadores que atualmente não têm essa opção, independentemente do tamanho das empresas em que atuem e do vínculo trabalhista que tenham. Para se ter uma ideia, o popular crédito consignado público, que todo brasileiro conhece, soma mais de R$ 500 bilhões, enquanto o privado tem uma carteira de R$ 40 bilhões. Há um potencial de crescimento importante aí”, ressalta o presidente da associação.

No contexto do novo consignado privado, Ferreira reitera que as discussões sobre a proposta do fim do saque-aniversário se impõem como um dos debates de maior relevância para as fintechs de crédito nos próximos meses. “Essa modalidade tornou-se uma oportunidade muito interessante para clientes endividados e negativados, porque é uma forma barata de acessar crédito. O governo está buscando atrelar a aprovação do novo consignado privado ao fim do saque-aniversário. O mercado tem interesse que essa modalidade, que já responde por um volume relevante de crédito, siga existindo paralelamente ao consignado privado”.

Outro tema que deve movimentar o segmento, segundo a entidade, é a proposta de regulamentação dos modelos de parceria para oferecimento de serviços financeiros e de pagamento, conhecidos como Banking as a Service (BaaS), na esteira do encerramento da consulta pública sobre o tópico no próximo dia 31 de janeiro. Por meio do BaaS, empresas de todos os setores podem ofertar serviços financeiros a seus clientes, incluindo crédito.

Colecionando recordes desde o seu lançamento, há quatro anos, o Pix, na análise da ABCD, deve seguir avançando em 2025, principalmente com a chegada da modalidade automática, disponível a partir de 16 de junho, de acordo com o Banco Central. “A novidade, que é uma evolução do débito em conta, e que será realizada em uma plataforma mais aberta, pode mudar muito o mercado de crédito e o de cobrança”, analisa Ferreira.

A associação projeta também que nos próximos meses as fintechs de crédito vão intensificar ainda mais o uso de Inteligência Artificial (IA) em suas operações, principalmente em ações voltadas a apoiar o processo de concessão de crédito e de cobranças.

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