O otimismo do empresário brasileiro em relação ao futuro da economia e dos negócios sofreu uma queda no segundo trimestre do ano, de acordo com o International Business Report (IBR). A pesquisa trimestral realizada pela Grant Thornton, uma das maiores empresas de consultoria, auditoria e tributos do mundo, revela que 66% dos líderes do middle market estão otimistas em relação aos próximos 12 meses, 6 p.p abaixo em comparação ao primeiro trimestre do ano. O estudo avalia a perspectiva de mais de 5 mil lideranças empresariais em 28 países e abrange diversos indicadores como receita, investimentos e perspectivas sobre setores específicos.

De acordo com o levantamento, o principal impeditivo para a continuidade dos investimentos é a incerteza econômica, fator limitante para 52% dos empresários brasileiros, que teve aumento de 3 p.p em comparação com o primeiro trimestre deste ano.

Para o CEO da Grant Thornton no Brasil, Daniel Maranhão, “a demora no processo de ajustes nos textos e na aprovação da reforma tributária, em conjunto com a instabilidade nas contas públicas e taxas de juros elevadas, têm aumentado as incertezas entre os empresários”. Outro aspecto que se destacou foi a preocupação com os custos de produção, apontada por 51% dos empresários, seguida pela burocracia, que impacta diretamente o crescimento do mercado de acordo com 49% dos entrevistados, demonstrando que a reforma tributária ainda é um tema delicado para muitos líderes no Brasil.

Na contramão do mundo

Na média global do relatório, o otimismo das empresas atingiu um nível recorde, superando até mesmo os níveis pré-covid, com 71% dos líderes confiantes, aumento de cinco pontos em relação ao primeiro trimestre. 

“A retomada do otimismo é impulsionada pelo momento mais estável da economia global, com destaque para países como Indonésia (90%), China (82%), Estados Unidos (82%), Emirados Árabes (81%), Índia (79%), Marrocos (79%), México (77%) e Vietnã (77%), todos com índices bem superiores à média global de otimismo. Com a aproximação das eleições nos Estados Unidos e a expectativa de manutenção do crescimento econômico norte-americana, além da projeção de estabilidade econômica em países como China e Índia, podemos esperar um ambiente mais propício para o desenvolvimento das empresas em todo o mundo, incluindo o Brasil”, avalia Maranhão.

Para medir a atividade econômica, a empregabilidade é um indicador fundamental. Os dados globais revelam que 55% dos líderes empresariais pretendem contratar nos próximos 12 meses. Esse índice representa um recorde histórico desde o início da pesquisa, em 2019, sinalizando a perspectiva positiva em relação à recuperação da economia. Já no Brasil, as expectativas para criação de novos empregos caíram de 74% no primeiro trimestre, para 65% no final de junho de 2024. Para o CEO da Grant Thornton, o número também contribui para a queda do otimismo, que consequentemente acende um alerta para o mercado. Ainda assim, o país segue acima da média global (55%) e latino-americana (58%).

Ainda assim, muitas oportunidades

Apesar das incertezas, a expectativa de investimento continua positiva e o Brasil se destaca na comparação com outros países. Mesmo com a queda de 5 p.p nas intenções de investimento em tecnologia, 76% das empresas demonstram compromisso com a área, acima da média global de 67%. Além disso, o comprometimento dos líderes nacionais com a inovação também se reflete nas intenções de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento, que atingiu 66% no último levantamento, acima dos 60% da média global e dos 57% da média latinoamericana.

Seguindo esta mesma linha, 59% dos líderes globais demonstram a intenção de focar na capacitação e no desenvolvimento de pessoas e, no Brasil, o número é ainda mais significativo: 64%. “Esse movimento demonstra que, cada vez mais, as empresas buscam o equilíbrio entre a inovação tecnológica e a valorização do talento humano para impulsionar o crescimento. Mesmo com a enorme influência de novas tecnologias, como a inteligência artificial, os gestores estão cientes que ela não opera de forma autônoma e necessita de uma força de trabalho qualificada para a plena implementação e sucesso dessa jornada”, completa Maranhão.

Para Maranhão, apesar das incertezas, o Brasil segue oferecendo diversas oportunidades para as empresas e para os empreendedores, sobretudo em um cenário de longo prazo com maior estabilidade política e melhor gestão dos gastos públicos. A pesquisa revela que 59% dos empresários brasileiros esperam ampliar sua presença internacional e, nesta mesma linha, 52% têm expectativa de aumentar suas receitas com exportação. “Não é o momento de parar, apesar do contexto de cautela”, encerra o executivo.

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