Depois de um longo hiato, com queda na produção industrial em sete dos últimos dez anos, a indústria brasileira vem mostrando força e este ano deverá ter um desempenho positivo. Nos doze meses encerrados em agosto, o índice registrou aumento de 2,4%, o que levou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a revisar as projeções do ano para cima. Agora, a estimativa é que a produção industrial feche 2024 com avanço 2,9%, contra os 2,2% previstos anteriormente.

Dados de agosto da pesquisa Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que, pelo segundo mês consecutivo, houve um aumento da atividade industrial, com a produção e o número de empregados reagindo a um aumento da demanda por bens industriais. As médias e grandes empresas puxaram este crescimento.

“A indústria tem tido uma performance forte, exibindo indicadores robustos”, diz José Maurício Caldeira, sócio acionista da Asperbras Brasil, grupo que atua em diversos segmentos do setor industrial e do agronegócio. “Isso é muito importante porque é um setor que irradia crescimento para toda a economia”.

Outro indicador da CNI, o Índice de Confiança do Empresário Industrial, também reflete otimismo. Em setembro, 26 dos 29 setores industriais demonstraram confiança. É o maior número de setores da indústria confiantes em quase dois anos. O entendimento da CNI é que este resultado positivo se deve à melhora da percepção dos empresários sobre a situação da economia.

“O mercado de trabalho está aquecido, a renda das famílias está em alta e o crédito em expansão. Esta combinação de fatores são pontos importantes para puxar o crescimento da indústria”, acredita José Maurício Caldeira, lembrando que a taxa de desemprego atingiu 6,6% em agosto, menor nível da história para o mês, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desde o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, que avançou 1,4% em relação ao primeiro trimestre, ficou clara a força da indústria. A indústria de transformação cresceu 1,8%, intensificando a retomada observada no trimestre anterior (+0,9%). Com este resultado, a elevação na primeira metade de 2024 chegou a 1,9% em relação ao segundo semestre de 2023. Os destaques são os setores de bens de capital e de bens de consumo.

O aumento do crédito e da confiança dos empresários têm beneficiado o setor de bens de capital. O de bens de consumo foi impulsionado pelo avanço da renda e do crédito. Produtos da linha branca, como, micro-ondas e fogões, mais afetados pelo crédito, estão em recuperação.

A perspectiva de aumento de juros deixa o cenário futuro mais incerto. Em setembro, a autoridade monetária aumentou a taxa em 0,25 p.p. para 10,75% ao ano, sob o argumento de que a economia está muito aquecida, o que pode resultar em aumento de inflação.

Segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central, que semanalmente coleta as estimativas de mais de cem analistas do mercado financeiro, a expectativa é que os juros terminem 2024 em 11,74% ao ano.

“Isso significa puxar o freio de mão da economia. E a indústria é o segmento que mais sente, pois é muito sensível aos juros altos, uma vez que bens industriais, como carro, geladeira, televisão, dependem fundamentalmente de crédito farto e acessível”, observa José Maurício Caldeira. “É preciso cuidado para não prejudicar o setor que, finalmente, começa a ter bons resultados”, finaliza Caldeira.

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