O número de operações da Polícia Federal para combater o abuso sexual infantil na internet na Paraíba cresceu mais de 10 vezes em um intervalo de três anos, entre 2022 e 2024, segundo dados levantados pela Rádio CBN. Enquanto em 2022 foram registradas apenas 3 operações, esse número saltou para 20 em 2023, e até agosto de 2024, já são 34 operações, sendo a mais recente delas realizada na última quarta-feira (9), em Patos, Sousa e Campina Grande.
De acordo com a delegada Luciana Mota, nos últimos dois anos, o trabalho da PF resultou em 33 prisões e 34 indiciamentos de suspeitos de abuso sexual infantil. Na delegacia de repressão aos crimes cibernéticos, onde estes casos são investigados, os policiais buscam rastrear tanto o caminho dos criminosos, que aliciam crianças para a produção do material, quanto das pessoas que compram fotos ou vídeos. O principal desafio é que não existe um perfil deste tipo de criminosos.
“A primeira coisa que o policial que vai investigar esse tipo de matéria e que a sociedade em geral precisa ter em mente é que não existe perfil para o abusador. Ele não tem cara. Ele pode ser o tio legal da família, o professor gente boa. Os números mostram que o abusador muitas vezes está dentro do lar. E assim como não existe o perfil do abusador, também não tem o perfil do consumidor do material criminoso. Pode ser qualquer um”, explica Luciana.
Essa dificuldade se dá, principalmente, pelos métodos utilizados pelos criminosos para produzir e consumir o conteúdo, sobretudo pelo anonimato na internet.
“Os criminosos, principalmente no mundo digital, têm uma vantagem porque eles estão à distância. Você não os vê e eles podem se passar por quem eles quiserem. Quando se trata de crianças, eles podem se fazer passar por personagens que as crianças têm apreço, e criança normalmente interage com o personagem. No meio dessa interação é que eles agem para conseguir acessar as crianças”, explica o professor Edmar Gurjão do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Para encontrar os criminosos, a Polícia Federal muitas vezes parte de materiais apreendidos já em outras operações. “Algumas investigações a gente chega em quem adquiriu uma certa quantidade de material de abuso, em outras a gente consegue chegar em quem produziu o material. Então, a depender do autor de qual tipo de crime específico a gente está investigando, o tipo de apreensão que a gente faz é de natureza diversa”, explica a delegada Luciana Mota.
Como a maioria dos casos envolve o compartilhamento digital dos materiais produzidos, o foco da polícia são os equipamentos eletrônicos: notebooks, HDs externos, celulares, entre outros. Para facilitar nas buscas, a PF também conta com cruzamento de informações e cooperação internacional, que ajudou em pelo menos três operações nos últimos anos. Nestes casos, os investigados foram identificados a partir de aplicativos de conversação.
“São grupos de aplicativos de conversação com pessoas do mundo inteiro, então as ações de cooperação internacional vêm normalmente deste viés. São operações realizadas por policiais de outros países que identificam usuários nos mais diversos países do mundo, dentre os quais, o Brasil, e por meio dos canais de cooperação internacional, sendo o mais conhecido deles a Interpol, a Polícia Federal concentra o recebimento dessas informações”, completou a delegada.
Para combater este crime, segundo o professor de tecnologia, é necessário adotar práticas de segurança online, como a redução da exposição de informações pessoais na internet, além do monitoramento das atividades que crianças e adolescentes realizam online.
As denúncias podem ser feitas por meio do número 197, da Polícia Civil, ou então pelo número 100, do Governo Federal, para casos de violação de direitos humanos.
Com G1/PB
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