A cena protagonizada pelos três candidatos de oposição ao atual prefeito da Capital, Cícero Lucena (PP), pedindo tropas federais e tentando criminalizar as eleições municipais deste ano pode ter sido o tiro de misericórdia nas pretensões dos adversários do gestor da Aldeia das Neves em tentar prorrogar o pleito e levá-lo para um segundo tempo. E se a estratégia era colar a operação da da Polícia Federal, ontem, no Bairro São José, chafurdando a imagem do atual gestor pessoense, a avaliação de quem entende do riscado e mexe com o comportamento da redes sociais é de que os três passaram para o distinto público de que estão juntos, misturados e combinados contra o prefeito.
Aliás, o primeiro a captar esse sentimento foi ninguém mais, ninguém menos que o presidente do PT, Jackson Macedo, que não poupou o candidato do seu partido, o deputado estadual Luciano Cartaxo, lembrando que o ex-prefeito sentou ao lado ao lado de Marcelo Queiroga, candidato bolsonarista, que segundo ele, representa um governo negacionista, que tem ligações com milícias e que desdenhou dos pacientes acometidos pela COVID. E mais, para o presidente estadual do PT, a coletiva de imprensa realizada pelos candidatos a prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, Ruy Carneiro e Marcelo Queiroga serviu para demonstrar um aliança política para um eventual segundo turno, em João Pessoa.
E se os petistas reagiram assim, imaginem o bolsonarismo que viu seu candidato lado a lado com o postulante petista, estreitando laços e dizendo ninguém solta a mão de ninguém?! Realmente, olhando por esse ângulo, Marcelo e Luciano podem ter dado o famoso abraço de afogados.
Ruy Carneiro, por sua vez, depois do malfadado episódio do circo, no bairro do Cristo Redentor, partiu para o tudo e nada e buscou criar mais um fato para chamar a atenção dos eleitores, empinando uma pauta que julga projetar sua campanha, sobretudo perante os indecisos, na tentativa de crescer a ponto de provocar um eventual segundo turno. Mas, a conferir nos próximos dias, a manobra pode ter efeito contrário, especialmente se a opinião pública entender que tudo não passou de um teatro de bonecos.
A tentativa de criminalizar o processo eleitoral em João Pessoa, não cola, especialmente quando a estratégia é ligar isso a Cícero Lucena, um político de perfil pacificador e reconhecido pela capacidade de conviver e respeitar até quem tem pensamento divergente do seu. Não por acaso, no auge da briga entre maranhistas e ronaldistas, após o episódio do Clube Campestre, o então governador José Targino Maranhão sugeriu Lucena para ser o candidato de consenso do PMDB ao Governo do Estado na eleição de 2002. Cícero, como se sabe, por lealdade a Ronaldo Cunha Lima declinou, trocou a sigla pelo PSDB, e apoiou Cássio Cunha Lima, o vitorioso naquele ano.
Não sei quem foi a eminência parda que bolou essa estratégia, mas a impressão que passa é de uma iniciativa quase que desesperada de reversão de um quadro muito adverso para os três opositores ao atual prefeito pessoense. Por outro lado, a manobra também tenta emparedar a Justiça Eleitoral paraibana, que pode até convocar tropas federais para João Pessoa e demais municípios paraibanos, isso, claro, se julgar necessário, mas nunca a base de pressão política de quem quer que seja.
Quem acompanha, como eu, eleições em João Pessoa desde 1996, sabe que os pleitos na Capital sempre foram marcadas pela civilidade, mesmo diante de disputas acirradas. Querer criar um ambiente diferente disso é atentar contra a inteligência do mais ingênuo cidadão dessa cidade, que sabe discernir o que é política e o que é politicagem.
Como alertei em escrito aqui mesmo nesse espaço, no dia 28 de agosto, tentar pintar de sangue João Pessoa às portas da principal estação do ano apenas e tão somente para atender interesses políticos e eleitorais não é apenas um crime de fake news, mas um atentado contra a cidade, as pessoas e a cadeia econômica, da construção civil ao setor turismo, que aguarda ansiosamente essa época do ano para ampliar seus negócios, gerar empregos, incrementar a renda e movimentar a nossa economia.
Em meio a essa guerra de narrativas, que as questões relacionadas à segurança pública fiquem com quem de direito e que a Justiça Eleitoral, de modo particular, tenha a sabedoria necessária para separar o que é fato e o que é narrativa de quem quer transformar a eleição num teatro dos bonecos.
Ivandro Oliveira é jornalista
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