Responsáveis pela produção de 97% do gesso no Brasil, as indústrias do Sertão do Araripe receberão um novo impulso com o início do fornecimento de gás natural na região. A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) começará a abastecer o Polo Gesseiro do Araripe, proporcionando sustentabilidade à produção. O anúncio, realizado esta semana em Araripina, no Sertão de Pernambuco, traz modernização e avanço para o setor, além de representar um marco no manejo ambiental da região. O investimento inicial é de aproximadamente R$ 6 milhões, e o projeto piloto será iniciado em abril. Para incentivar as empresas a adotarem a nova fonte energética, o Governo do Estado eliminou o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação -ICMS- do gás destinado às indústrias do gesso.

Atualmente, a matriz energética utilizada na indústria do gesso é a queima de lenha, o que resulta em desmatamento e altos custos de transporte do material. Para se ter uma noção do impacto ambiental, o Polo Gesseiro consome anualmente 6 milhões de árvores, o equivalente a 9 mil estádios de futebol. Com a transição para o gás, essa área pode ser preservada, contribuindo para a conservação da caatinga, um bioma crucial para a biodiversidade na Região Nordeste.

O Polo Araripe, abrangendo as cidades de Araripina, Bodocó, Exu, Ipubi, Santa Filomena e Trindade concentra 250 indústrias calcinadoras, 500 fábricas de pré-moldados e 50 empresas de mineração. A gipsita, matéria-prima do gesso, encontrada nessas localidades, é reconhecida pela sua alta qualidade, com pureza variando entre 88% e 98%.

O biólogo e mestre em Ecologia Maurício Dália alerta para o iminente risco de desertificação da região, devido à remoção da cobertura vegetal e às mudanças climáticas. Outras ameaças, como ocupação humana irregular, também devem ser consideradas. “Uma nova fonte de energia, como o gás, pode ser crucial para a preservação da caatinga, desde que alcance tanto as pessoas quanto as indústrias. Isso nos leva a uma questão mais ampla, que é tornar a energia acessível, contribuindo para reduzir a queima de lenha. Outra ameaça está relacionada à vida dos animais, que também é afetada pela desertificação”, explica o especialista.

O incentivo fiscal do Governo de Pernambuco deve estimular as empresas a adotarem o uso do gás natural. “Teremos gás com ICMS zero para garantir que esta região amplie seu desenvolvimento e gere mais empregos com nosso investimento inicial de cerca de R$ 6 milhões. Realizar essa demanda histórica e mudar a matriz energética do Polo Gesseiro contribuirá para preservar nossa caatinga”, destacou a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB).

Com o aumento do consumo na região, a Copergás planeja construir um terminal de regaseificação no Araripe, semelhante aos já existentes em Petrolina, no Sertão do São Francisco, e em Garanhuns, no Agreste. Segundo o presidente da Copergás, Felipe Valença, as obras começarão no final do ano, e a base operacional estará pronta a partir do primeiro semestre de 2025.

“O gás fornecido para o Polo Gesseiro será o mais econômico do estado, graças aos incentivos governamentais. Com mais empresas aderindo, promovemos desenvolvimento para a região, além e contribuir com a preservação da Caatinga”, afirma Felipe Valença. Os produtores de gesso não terão restrições quanto ao uso do gás, e espera-se que o combustível seja adotado também por outras empresas no Sertão do Araripe.

O Polo do Araripe tem capacidade para consumir cerca de 320 mil metros cúbicos de gás natural por dia, o que equivale a 20% do volume atualmente distribuído pela Copergás e supera outras distribuidoras de gás natural. O projeto piloto será iniciado em abril de 2024. A Copergás solicitará cartas de adesão ao novo projeto. Estima-se que pelo menos 50 empresas estejam aptas a converter sua fonte energética para o gás natural, e a economia com combustíveis pode chegar a R$ 20 milhões por ano apenas nessas empresas.

As empresas dos seis municípios que compõem o Polo utilizam lenha, uma matriz energética escassa que atualmente contribui para o desmatamento da Caatinga. Com a adoção do gás natural, a indústria local será mais ambientalmente sustentável, promovendo uma combustão mais limpa.

Para o presidente do Sindicato da Indústria de Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Jefferson Duarte, a chegada do gás marca um novo momento no Sertão do Araripe. “A chegada do gás trará uma nova perspectiva para a região do Araripe. Temos um dos maiores obstáculos em nossa indústria, que é a matriz energética. Com as empresas conseguindo migrar para o gás natural, tenho certeza de que iremos produzir de forma mais sustentável e econômica. Somos a maior potência de gesso do Brasil. Esse impulso será um divisor de águas para a nossa região”, afirmou.

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