A arquitetura, mais do que apenas a arte de construir, também pode ser considerada uma janela para o passado. Ela pode revelar os valores e as dinâmicas sociais das civilizações que a criaram. No caso de Herodes, o Grande, que governou a Judeia como um rei cliente de Roma de 37 AEC., até sua morte em 4 AEC., suas construções são um testemunho de sua ambição.
Para a especialista em história antiga, Marisa Furlan, Herodes é uma figura histórica que desperta tanto admiração quanto controvérsia, conhecido tanto por seu governo despótico quanto por suas realizações arquitetônicas. “Suas obras não apenas moldaram a paisagem física da Judeia antiga, mas também servem como fontes históricas, proporcionando insights sobre a política, a cultura e a sociedade da época”, explica.
Furlan explica a forma como Herodes utilizou a arquitetura como uma forma de demonstrar seu poder e influência. Entre suas obras mais notáveis está a expansão do Segundo Templo em Jerusalém, a construção do porto de Cesareia Marítima e a edificação de fortalezas e palácios como Masada e o Herodium.
“Cada uma dessas construções servia a múltiplos propósitos: além de ser demonstrações de poder e riqueza, elas também eram estratégicas do ponto de vista político e militar”, comenta a especialista.
Para entender melhor o governante e estrategista, Furlan destaca a fortaleza do Herodium como um de seus maiores legados: “O Herodium, também conhecido como Har Hordus, é um exemplo de como a arquitetura e a história se entrelaçam. Localizado no Deserto da Judeia, na Cisjordânia, este complexo foi construído sobre uma colina ampliada, marcando o local onde Herodes lutou e venceu judeus leais ao seu inimigo Antígono II Matatias. Em comemoração a essa vitória, Herodes decidiu construir o Herodium. Segundo relatos históricos, Herodes construiu uma cidade naquele local em comemoração à sua vitória, a enriqueceu com palácios e a chamou de Herodium em sua homenagem”.
O Herodium inclui um amplo complexo de palácios, com uma fortaleza no topo da colina, uma área administrativa, um centro de recreação, um Teatro Real e um Mausoléu. Este último transformou a colina em um monumento funerário visível de longe, refletindo a intenção de Herodes de deixar um legado duradouro que perpetuasse sua memória.
Importância arqueológica do Herodium
O Herodium é hoje um dos sítios arqueológicos mais significativos da região. As escavações contínuas têm revelado muitos detalhes sobre a vida e o reinado de Herodes, contribuindo significativamente para o entendimento da arquitetura, engenharia, vida política e cultural da Judeia do primeiro século AEC.
Valorização histórica e cultural
Furlan destaca ainda que, para a UNESCO, sítios como o Herodium são essenciais para preservar e promover a herança cultural e histórica mundial.
Vale ressaltar que a organização reconhece a importância de proteger sítios semelhantes contra ameaças e degradação ambiental trabalhando com governos locais e outras entidades para garantir que esses sítios arqueológicos sejam preservados e protegidos.
Para a especialista, a fusão entre história e arquitetura no Herodium destaca a importância de tais sítios como pontes entre o passado e o presente. Através da preservação, proteção, pesquisa e educação, a UNESCO trabalha para assegurar que o Herodium continue a ser uma fonte de conhecimento.
“É preciso ver esses monumentos como testemunhos vivos da capacidade humana de criar e legar um patrimônio cultural duradouro, refletindo as complexas interações entre arquitetura e história”, ressalta.
Ela explica ainda que a arquitetura de Herodes, o Grande, oferece uma janela para o passado, onde história e construção se fundem para contar a história de um dos reis mais influentes e controversos da antiguidade.
Sobre a profissional
Marisa Martins Furlan é doutoranda em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Mestra em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e em História pelo Centro Universitário Internacional UNINTER, além de Licenciada em História pela Faculdade Campos Elíseos (FCE). Com mais de oito anos de experiência, Marisa é professora de História pelo Estado de São Paulo e especialista em arqueologia, história e estudos religiosos.
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