O recente ressurgimento dos sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue no Brasil tem gerado crescente inquietação entre os especialistas, levantando a preocupação de uma possível epidemia da doença. O temor reside na possibilidade de um aumento significativo no número de infectados, especialmente devido à baixa imunidade da população. Além disso, existe o risco iminente de mais casos de dengue grave, que se manifesta com maior frequência em indivíduos que já foram infectados anteriormente por outro sorotipo.
O vírus da dengue é composto por quatro sorotipos: Den-1, Den-2, Den-3 e Den-4. De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a doença no Brasil segue ciclos endêmicos e epidêmicos, com epidemias explosivas ocorrendo a cada 4 ou 5 anos
Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 1.079 óbitos relacionados à dengue em 2023, superando os números de 2022, considerado o ano mais letal da doença, com 1.053 registros.
O patologista Helio Magarinos Torres Filho, diretor do Richet Medicina & Diagnóstico/Rede D’Or, explica que ao contrair a doença, uma pessoa desenvolve imunidade para o sorotipo específico pelo qual foi infectada. “No entanto, cada pessoa pode ter dengue até quatro vezes, uma para cada tipo. O desafio está no aumento do risco de formas mais graves, como a dengue hemorrágica, a cada nova infecção”, alerta o médico.
Para diagnosticar a doença e identificar o sorotipo envolvido são necessários testes específicos. “O teste capaz de distinguir os sorotipos é a pesquisa de RNA para dengue por PCR, que deve ser realizado logo no início dos sintomas, de preferência até o sétimo dia”, destaca Helio Magarinos.
A Fiocruz relata que o sorotipo 3 (DEN-3) não causa epidemia no Brasil há 15 anos, enquanto o sorotipo 4 (DEN-4) foi reintroduzido em território nacional em 2010, após 28 anos sem detecção no país. Já os sorotipos 1 e 2 são os mais comuns no Brasil, sendo o DEN-1 o que mais afeta os brasileiros.
Hélio Magarinos destaca a necessidade de vigilância contínua e ações preventivas para mitigar o impacto da doença na sociedade. “É necessário que as autoridades de saúde e a população se unam para conter a propagação do vírus, através do controle dos focos do mosquito transmissor (Aedes aegypti), e da vacinação, que já está disponível no Brasil na rede privada”, destaca o patologista.
No final de 2023, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação da vacina da dengue (Qdenga) ao Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a cobertura inicial será limitada, com aproximadamente 3,1 milhões de pessoas podendo ser vacinadas.
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